quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Luva branca


A vida acaba sempre por ser justa. Pode tardar muito ou pouco. Pode não ser como se espera, mas a justiça chega. Não se pode querer que a justiça seja igual à de uma criança, meio consciente do perigo e ignorante perante a igualdade, fraternidade e a liberdade.

A bofetada que um pai dá a um filho, não é (devendo ser!) a que um amigo dá a outro quando se magoam, nem a que um irmão dá a outro quando se atraiçoam, nem a mesma que se dá à vida quando ela não segue o destino que queremos. É que as pessoas e os actos crescem com as pessoas, com os rumos, com as experiências. A bofetada tarda, mas chega. Porque nem tudo podem ser violências desmedidas e incontroladas da sociedade; porque nem tudo podem ser actos explícitos das sensações vividas.

Aquilo que se sofre não é comparável. Nada é comparável. As vivências mudam de pessoa para pessoa, de família para família, de interacção para interacção, de amor para amor, de sociedade para sociedade, de cultura para cultura e de ódio para ódio. O sentimento que aflora não é, decerto, a emoção que transborda. 

O que se exprime não passam de emoções irracionais, claro está, e impensadas do que se diz e se omite; do que se sente e do que se pensa. A bofetada continua a tardar, mas chega. Ela chega sempre.
Uma bofetada de luva branca, assim muitos dizem, surge quando do nada, já sem esperança no ontem, no hoje e no amanhã, a justiça da vida chega e se sente uma violência extrema no outro, como se agora um pai batesse num filho.