A vida acaba sempre por ser justa.
Pode tardar muito ou pouco. Pode não ser como se espera, mas a justiça chega.
Não se pode querer que a justiça seja igual à de uma criança, meio consciente
do perigo e ignorante perante a igualdade, fraternidade e a liberdade.
A bofetada que um pai dá a um
filho, não é (devendo ser!) a que um amigo dá a outro quando se magoam, nem a
que um irmão dá a outro quando se atraiçoam, nem a mesma que se dá à vida
quando ela não segue o destino que queremos. É que as pessoas e os actos
crescem com as pessoas, com os rumos, com as experiências. A bofetada tarda,
mas chega. Porque nem tudo podem ser violências desmedidas e incontroladas da
sociedade; porque nem tudo podem ser actos explícitos das sensações vividas.
Aquilo que se sofre não é
comparável. Nada é comparável. As vivências mudam de pessoa para pessoa, de
família para família, de interacção para interacção, de amor para amor, de
sociedade para sociedade, de cultura para cultura e de ódio para ódio. O sentimento
que aflora não é, decerto, a emoção que transborda.
O que se exprime não passam
de emoções irracionais, claro está, e impensadas do que se diz e se omite; do
que se sente e do que se pensa. A bofetada continua a tardar, mas chega. Ela
chega sempre.
Uma bofetada de luva branca, assim
muitos dizem, surge quando do nada, já sem esperança no ontem, no hoje e no
amanhã, a justiça da vida chega e se sente uma violência extrema no outro, como
se agora um pai batesse num filho.