quarta-feira, 17 de julho de 2013

Metropolitano de Lisboa

Às vezes sento-me na carruagem do metro e paro. Paro todos os meus pensamentos, todos os meus problemas, tudo o que me sufoca a mente. Liberto-a e alimento-a com todas as caras que estão ali comigo. Mas que não me conhecem de lado algum. Também eu não as conheço. A solidão em que vivemos assustam-me. Quantas foram as vontades de dizer olá, bom dia, como está.

Novos, velhos, nacionais, estrangeiros, com phones, com livros, jornais, palavras cruzadas, com sono, com boné, sem boné, cegos, pobres, ricos, cantores, loiros, excêntricos, punk, betos, sóbrios, bêbados, risos, sisudos, vestidos, quase despidos, educados, malcriados, silenciosos ou resmungões com a vida, com a política, com a mãe, a mulher, o marido, os filhos, o trabalho. Toda uma panóplia de diversidade que entra e sai das carruagens do metro desde as 6h à 1h, todos no seu silêncio, na sua individualidade.

Olho para uma criança, uma bebé de olhos bem arregalados, ao colo da mãe, talvez um ano, talvez numa ida para a escola, ao pediatra, a casa da avó, que olha para mim cheia de vida e me sorri. Aquele sorriso tao genuíno, tao fraterno, daqueles que todos devíamos receber quando estamos com pessoas. Ponho-lhe a língua de fora. Sorrio. “Estação de Entrecampos”: sai gente, entra gente. Todos na sua onda, na sua vida. Escuto, atenta, as conversas das pessoas que estão ao meu lado e imagino o que são aquelas pessoas, como se comportam, no que trabalham, como será a vida delas que as faz estar no metro às 8h45 da manhã…

“Estação do Campo Pequeno” saio eu na minha vida. Deixo para trás uma carruagem cheia de pessoas, de vidas paralelas, de pensamentos que se fossem visíveis precisaríamos não caberiam em carruagens.