Às vezes sento-me na carruagem do metro e paro. Paro todos
os meus pensamentos, todos os meus problemas, tudo o que me sufoca a mente.
Liberto-a e alimento-a com todas as caras que estão ali comigo. Mas que não me
conhecem de lado algum. Também eu não as conheço. A solidão em que vivemos assustam-me. Quantas foram as vontades de dizer olá, bom dia, como está.
Novos, velhos, nacionais, estrangeiros, com phones,
com livros, jornais, palavras cruzadas, com sono, com boné, sem boné, cegos,
pobres, ricos, cantores, loiros, excêntricos, punk, betos, sóbrios, bêbados,
risos, sisudos, vestidos, quase despidos, educados, malcriados, silenciosos ou
resmungões com a vida, com a política, com a mãe, a mulher, o marido, os
filhos, o trabalho. Toda uma panóplia de diversidade que entra e sai das carruagens do metro desde
as 6h à 1h, todos no seu silêncio, na sua individualidade.
Olho para uma criança, uma bebé de olhos bem arregalados, ao
colo da mãe, talvez um ano, talvez numa ida para a escola, ao pediatra, a casa
da avó, que olha para mim cheia de vida e me sorri. Aquele sorriso tao genuíno,
tao fraterno, daqueles que todos devíamos receber quando estamos com pessoas.
Ponho-lhe a língua de fora. Sorrio. “Estação de Entrecampos”: sai gente, entra
gente. Todos na sua onda, na sua vida. Escuto, atenta, as conversas das pessoas
que estão ao meu lado e imagino o que são aquelas pessoas, como se comportam, no
que trabalham, como será a vida delas que as faz estar no metro às 8h45 da
manhã…
“Estação do Campo Pequeno” saio eu na minha vida. Deixo para
trás uma carruagem cheia de pessoas, de vidas paralelas, de pensamentos que se
fossem visíveis precisaríamos não caberiam em carruagens.